Era meia noite: hora de dormir. As luzes da casa já estavam todas apagadas, não se ouviam mais passos. Todos dormiam. O único som que podia ser ouvido era o vento agitando as folhas das árvores. Em meu quarto, a última luz acesa foi apagada. Por minutos procurei alguém ao meu lado na cama, mas não encontrei ninguém. O sono também não apareceu. Talvez a carruagem de Morfeu se esquecesse de mim nessa noite. Decidi então não mais dormir.
Levantei-me da cama, embora o quarto estivesse totalmente escuro, fui em direção à janela e a abri, pois mesmo nas sombras, eu conhecia perfeitamente o quarto que manteve cativa toda a minha adolescência. Após ter aberto as janelas, a luz que vinha de fora iluminou levemente o quarto, permaneci recostado por algum tempo naquelas grades enferrujadas que me separavam do lado de fora.
Por entre as barras de ferro pude admirar o jardim onde plantei todos os meus sonhos infantis; alguns deles já crescidos como as imensas árvores que lá haviam, outros ainda desabrochando do solo fértil que é o meu quintal. Porém existiam alguns sonhos que ainda não haviam germinado. Talvez a maior parte deles, não sei ao certo, afinal a luz era pouca e eu não podia ver tudo com clareza naquela noite.
A noite trazia consigo uma brisa fria, os galhos das árvores se agitavam com o vento, uma imponente lua cheia brilhava no céu, seus feixes de luz eram tudo o que iluminava o meu cenário, por entre as árvores passavam e, de uma forma maravilhosamente desordenada, tocavam o solo, como o dividindo em pedaços. Era como se eu pudesse reconhecer, em cada parte escura ou iluminada do solo coberto por folhas caídas, uma parte do meu passado. Sim, pois aquelas grades enferrujadas separavam-me não só do lado de fora, mas do meu passado que permanecia ali, em meio às árvores.
A chama que acendeu um cigarro iluminou meu rosto por alguns segundos, ali me vi há anos atrás, almejando o dia em que alguém atravessaria aquelas grades para estender as mãos e me tirar daquela prisão que eu mesmo havia criado para mim. Recordei os dias em que tudo o que eu mais queria era voar para longe e deixar toda aquela vida para o ontem.
Naquele instante, enquanto a fumaça atravessava as barras de ferro, percebi que aquele garoto assustado e solitário já não existia mais. Decidi voltar à cama e tentar dormir novamente, pois a idéia de partir já não me agradara totalmente como antes, então retirei a foto de dentro de um dos livros, a beijei, e a trouxe para a cama, dessa forma tive a pessoa que amo comigo, durante toda a noite ao meu lado.
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
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